Continuando esta série em que compartilho livros que me ajudaram a entender melhor os processos criativos e transformaram a minha relação com a criatividade.
(Se você ainda não viu a parte 1, venha aqui.)
• A grande magia, Elizabeth Gilbert
Se você acompanha o meu trabalho há um tempo, deve saber que eu acredito que a criatividade e o encantamento estão intimamente conectados, certo?
Então, imagina a minha alegria ao me deparar com esse livro que, já no título, une magia e vida criativa. Agora, multiplica essa alegria por dois ao me deparar com um capítulo inteiro chamado “encantamento”. Ah, faltou mencionar que o livro foi escrito por uma escritora que eu super admiro, a Elizabeth Gilbert. Sim, é muita felicidade para um livro só!
E a leitura não me decepcionou, pelo contrário.
De forma fluída e usando as próprias experiências como exemplos, Elizabeth vai nos mostrando a sua forma peculiar de enxergar a criatividade.
Desde o início, ela faz o alerta de que não se trata de uma maneira moderna, científica ou racional de ver as ideias.
A autora acredita que o processo criativo é uma força de encantamento. Algo literalmente mágico, no sentido Hogwarts de ser. Vou deixar que ela mesmo te explique a sua teoria:
“Acredito que nosso planeta é habitado não apenas por animais, plantas, bactérias e vírus, mas também por ideias. São completamente separadas de nós, mas capazes de interagir conosco – ainda que de modo estranho. As ideias não têm um corpo material, mas têm consciência, e certamente, têm vontade própria. São movidas por um único impulso: o de se manifestar. E a única maneira pela qual uma ideia pode se manifestar é por meio da colaboração de um parceiro humano. Ela só pode ser escoltada do meio etéreo para o reino da realidade através dos esforços de um humano.”
Bem diferente essa visão, né? Mas, dentro de mim, fez sentido. Por mais que a gente possa aprender e exercitar a criatividade, existe algo de incontrolável neste processo, e por que não nomear essa imprevisibilidade de magia? Validade científica à parte, acredito que uma relação mais personificada com as ideias tende a gerar mais abertura e proximidade.
Elizabeth também aborda sobre a importância da permissão, da persistência, da confiança e da coragem no processo criativo.
E, falando em coragem, achei infeliz a tradução do subtítulo para o português, dando a entender que é possível viver criativamente sem medo, o que a própria autora contradiz. Segundo ela, nessa viagem pela criatividade, o medo sempre será nosso companheiro. Ele só não precisa assumir o volante.
Com esse livro, eu aprendi a ver as ideias de uma forma ainda mais encantadora e mágica.
Dica extra: se você fala inglês, vale à pena ouvir a série de podcasts dela chamada Magic Lessons, onde ela conversa com vários artista incríveis.
• Criatividade – Liberando sua Força Interior, Osho
Qual a relação entre criatividade e espiritualidade?
Essa foi a pergunta que eu me fiz e que você pode estar se fazendo aí agora diante da capa deste livro.
Para o mestre espiritual Osho, criatividade é permitir que Deus se manifeste. Ser criativo é se entregar a uma força maior do que você.
“Se algo cresce demais dentro do seu ser, ele o faz crescer, ele é espiritual, ele é criativo, ele é divino.”
Para que a criatividade aconteça, é preciso voltar-se para dentro de si mesmo e libertar-se do poder do ego.
Segundo ele, são 5 os principais obstáculos para uma vida criativa: a autoconsciência, o perfeccionismo, o intelecto, as crenças e o jogo da fama.
“Quando a ambição aparece, a criatividade desaparece – pois a pessoa ambiciosa não pode ser criativa; uma pessoa ambiciosa não consegue amar nenhuma atividade. (…) ela passa o tempo todo pensando no futuro – mas a pessoa criativa está sempre no presente.”
Ele aponta também as 4 chaves para se alcançar a criatividade: voltar a ser criança, manter-se disposto a aprender, procurar felicidade nas coisas simples e ser um sonhador.
“O criador tem que ser capaz de parecer idiota. O criador tem que por em risco o que se chama respeitabilidade.”
Osho fala que de nada adianta procurarmos sentido na vida como mero espectadores. O sentido da vida a gente não encontra, a gente cria. Criar é o que traz sentido à humanidade.
Essa foi uma leitura bem profunda e que me fez refletir sobre muitas coisas, entre elas, a minha grande necessidade de racionalizar quase tudo. Com ela eu aprendi que desaprender pode ser ainda mais importante do que aprender quando se busca alcançar a criatividade.
• O caminho do artista, Julia Cameron
Se eu pudesse indicar apenas um livro para quem quer realmente colocar a criatividade em prática, com certeza, seria esse. Mas aviso: é preciso bastante comprometimento e disposição.
Após um período de bloqueio interior, a roteirista hollywoodiana Julia Cameron começou a desenvolver um método para se reconectar com o seu potencial criativo. Esse método virou um workshop que ajudou artistas de várias áreas a se desbloquearem. Algum tempo depois, ela decidiu compartilhar esses aprendizados neste livro.
O conteúdo é dividido em 12 semanas e a proposta é que o leitor parta, de fato, para a ação.
As ferramentas, exercícios e reflexões que ela traz fizeram tanto sentido para mim que eu continuo aplicando no meu dia a dia e ensinando algumas delas nos cursos que eu dou sobre criatividade e escrita criativa.
“Dê a si mesmo a permissão para ser um iniciante, Ao se permitir ser ruim, você passa a ter a chance de ser um artista e, talvez, com o tempo, se tornar muito bom.”
Entre as ferramentas que ela propõe estão a escrita diária de 3 páginas matinais, com pensamentos em livre associação, e o encontro com o artista, um compromisso semanal com a nossa criança interior.
“Ao fazer as páginas matinais, você estará enviando – notificando a si mesmo e ao Universo sobre seus sonhos, insatisfações e esperanças. Ao fazer o encontro com o artista, você estará recebendo – abrindo-se a descobertas, inspiração e orientação.”
Assim como no livro do Osho, que eu falei anteriormente, Julia também propõe que o caminho do artista é um caminho espiritual. Em muitos momentos, ela fala em Deus, mas propõe que a gente reveja esse conceito e sugere para que cada um possa substituir essa palavra por outra que lhe fizer mais sentido. Para ela, Deus é uma fonte ou um fluxo de energia que permeia tudo e que gosta de se expandir. Esse Grande Criador está disposto a colaborar de forma conosco generosa e criativa. Para receber a sua colaboração, devemos nos libertar de algumas crenças limitantes e estarmos dispostos a ouvir a nossa voz interior.
“Quando nos abrimos à nossa criatividade, nós nos abrimos à criatividade do criador dentro de nós e de nossa vida.”
Com esse livro, eu aprendi cuidar melhor da minha relação com a criatividade, a abrir espaço diariamente para que ela flua e para me ouvir. Ele me relembrou também da importância de fazer pausas e inserir momentos de diversão para alimentar o processo criativo.
Gostou das dicas? Em breve, trago mais livros para você.