Sobre ficar (realmente) em casa

Eu pensei que seria mais fácil para mim.

Pensei que a minha rotina não mudaria tanto.

Que os últimos anos trabalhando em casa fossem ajudar.
Que o fato do meu marido também trabalhar de casa fosse ajudar.
Que os últimos meses cuidando de um bebê quase sem sair de casa iriam ajudar.

E não é que essas experiências não tenham me ajudado. Elas me ajudaram e muito. Eu me sinto privilegiada e extremamente grata por ter passado por elas. Só que essas experiências me prepararam para ficar na minha casa enquanto o mundo lá fora continuava se movimentando da mesma forma.

Só que o mundo lá fora já não é o mesmo.

As pessoas lá fora também tiveram que voltar para a sua casa. E, como num efeito dominó, ou melhor, num efeito borboleta, as consequências práticas já chegaram até aqui. A diarista que fazia a faxina da minha casa teve que voltar para dela. Os vendedores que cuidavam dos meus produtos nas lojas tiveram que voltar para a casa deles. Algumas pessoas próximas já tiveram seus empregos ou negócios afetados. Além disso, fazer qualquer tipo de compra se tornou um desafio. Isso só para citar alguns exemplos bem próximos de mim e para explicitar o quanto estamos interligados.

E eu tenho total clareza de que estes são desafios muito pequenos se comparados aos que outras pessoas estão enfrentando. Porém, todas essas mudanças já afetaram muito a minha rotina. Todas essas mudanças provavelmente irão afetar também as minhas finanças. Porém, essas mudanças não tem sido a parte mais desafiadora deste processo.

As minhas experiências anteriores me prepararam para passar bastante tempo na minha casa física. Apesar disso, não tem sido fácil passar tanto tempo na minha casa interior.

Existe um desconforto em ficar aqui, dentro de mim mesma, lidando com as minhas angústias, medos e inseguranças.

Mesmo estando tudo bem comigo e com a minha família neste momento, existe uma insistência da minha mente em não permanecer aqui, no agora. Ela teima em ir passear em cenários futuros e amedrontadores.

Existe um incômodo em ficar aqui, impotente diante de tudo isso. Sempre atenta, a minha mente passeia ao redor do globo e me envia alertas constantes de que eu deveria estar fazendo mais, me informando mais e me precavendo mais. Ela insiste em não perder o controle, controle esse que na verdade sempre foi uma grande ilusão.

Existe também um desconforto enorme por estar vendo tanta gente sofrendo e eu aqui, bem e sem fazer nada por elas. Diante disso, a minha mente insiste em descumprir a quarentena. Ela fica dando voltas por aí, tentando passear por peles alheias. Tentativas em vão, claro. É impossível de fato ocupar o lugar do outro e, sempre que eu tento fazer isso, acabo deixando um lugar vazio: o meu.

Esvaziado o meu lugar, esvaziada também a minha energia. Constantemente, tenho me sentido exausta. Retomar o foco não tem sido fácil.

Como uma vizinha que espia pela janela o movimento da rua, fico a observar a minha mente escapar de mim mesma. E, num laço, tento recuperá-la mais uma vez, antes que seja tarde demais.

Neste momento, reassumir o próprio centro me parece o único caminho viável. Por mais egoísta que isso possa parecer, tem horas que é preciso fechar as janelas para o mundo e fazer o caminho de volta. Voltar, de fato, para o meu lar e permanecer nele.

E, para você, como está sendo esta experiência? Está conseguindo ficar em casa?

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Quem cria

Dani Brandão

Encantadora de palavras e imagens. Facilitadora de fluxos criativos. Criadora da Waau. 

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