Eu sei, eu sei. Os dias andam tenebrosos lá fora. Talvez as coisas estejam um bocado nebulosas aí dentro também. Por aqui, a paisagem anda bastante instável. Tem horas que tudo parece tão frágil e tenso. É como se uma delicada película sustentasse toda a superfície e essa película estivesse tão fina e tensionada que a qualquer momento pudesse se rasgar, ruir… Não saber, não saber. Não fazer a menor ideia do que vem pela frente aterroriza. Nos faz pintar os piores cenários e nos coloca em estado de alerta: como fechar os olhos quando parece que a qualquer segundo tudo pode se romper? E diante das incertezas, como não querer se agarrar a qualquer vestígio de segurança? Você sabe, você sabe, quando tudo que se move se torna uma ameaça, toda tentativa de desvio poderá ser julgada como inadequada. E, sem perceber, começamos erguer uma couraça ao redor de nossos peitos para nos proteger. É então que, sob o voto secreto do silêncio, fica decretado que: qualquer forma de alegria poderá ser vista como supérflua, qualquer forma de poesia poderá ser vista como desnecessária, qualquer forma de delicadeza poderá ser vista como ingenuidade, qualquer